O poeta que buscou uma voz inicial para cantar o mundo
Morreu em 23 de setembro, em Lisboa, aos 88 anos, o poeta e ensaísta António Ramos Rosa, um dos nomes cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, autor de quase uma centena de títulos, de O Grito Claro (1958), a sua célebre obra de estreia, até ao muito recente Em Torno do Imponderável, um belo livro de poemas breves publicado em 2012. Exemplo de uma entrega radical à escrita, como talvez não haja outro na poesia portuguesa contemporânea, Ramos Rosa morreu por volta das 13h30 em consequência de uma infecção respiratória.
(Fonte: Jornal "Público", de 24 de setembro)
Das muitas mensagens inadiáveis que nos deixou selecionámos a seguinte:
Não Posso Adiar o Amor
Não posso
adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o
grito sufoque na garganta
ainda que o
ódio estale e crepite e arda
sob
montanhas cinzentas
e montanhas
cinzentas
Não posso
adiar este abraço
que é uma
arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso
adiar
ainda que a
noite pese séculos sobre as costas
e a aurora
indecisa demore
não posso
adiar para outro século a minha vida
nem o meu
amor
nem o meu
grito de libertação
Não posso
adiar o coração
António
Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"